In Illo Tempore I


Foi na última visita aos meus avós, que durante um jantar o meu avô começou a contar mais uma das muitas histórias que sabe da nossa Covilhã. Ao fim de tantos anos a ouvir inúmeras histórias, há sempre mais uma que é novidade para mim. E uma cidade também é feita de histórias, não apenas de locais ou eventos actuais. Como tal, porque não imortalizar estes "pedaços" da Covilhã, passados de geração em geração, de forma digital? Já o fazemos com as fotos antigas, que vamos digitalizando e arquivando de forma a não se perderem no tempo... Assim, surgiu esta nova crónica no blog, que será nomeada através da expressão em latim "in illo tempore" que significa "naquele tempo".

E porque este blog também é de todos os covilhanenses, convido-vos a partilhar as vossas histórias connosco! Podem enviar através de e-mail (atcovilha@gmail.com), mensagem privada na página de facebook ou através do formulário de contacto na página inicial deste blogue. 

Aqui fica então o primeiro relato, pelo meu avô, João Alberto Ferreira da Silva:

«Havia um médico muito conhecido na cidade, o Dr. José Ranito Baltazar. Chegou a ser Presidente da Câmara Municipal. Era membro de uma família muito rica. Um dia, depois de ter observado um doente e quando já estava a passar a receita, ligou-lhe o feitor da quinta a pedir mais estrume para as terras. Desligado o telefone, entregou a receita ao doente e este foi logo aviá-la à farmácia mais próxima. O farmacêutico olhou, voltou a olhar e não conseguiu ler o nome do remédio e mandou o cliente à Farmácia Pedroso. É que nesta farmácia trabalhava o Sr. Amândio Cavalheiro que era o único que conseguia decifrar os gatafunhos de todos os médicos locais. A tal ponto que muitas vezes os colegas de outras farmácias recorriam ao Sr. Amândio para lhes ler as receitas. O Sr. Amândio viu, tornou a ver e depois de observar bem a receita disse ao cliente: 
– Francamente o que eu consigo ler é "dois carros de estrume". 
O Dr. Baltazar tinha tomado nota do recado do feitor, na receita do doente, que teve de voltar ao consultório para trazer a correcta prescrição do médico.»

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